segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A maldição dos Labdácidas

O Crime de Laios, o Pai


O rapto de Crísipo por Laios e a maldição de Pélops


Laios (o torto, em grego), de acordo com a mitologia grega, é o pai de Óidipous ou Édipo, e filho de Lábdacos, rei de Tebas. Seu pai foi morto por bacantes vingativas pela repressão ao culto a Dionísio. Como Laios ainda era criança, a regência de Tebas foi entregue a Lico. Quando os tiranos Anfião e Zeto mataram o regente e tomaram o poder na cidade, o príncipe de Tebas foi exilado, ainda bebê, na Frígia, na corte do rei Pélops.

Lá foi educado e cresceu. Mais tarde, Pélops teve um filho, Crísipo, príncipe-herdeiro do trono frígio. Quando este se tornou adolescente, Pélops pediu a Laios que fosse seu preceptor, e este se apaixonou pelo menino.
Esse amor homossexual - tolerado pelos costumes gregos enquanto relação pedagógica/pedofílica - deveria ser interrompido quando Crísipo se tornarsse adulto. Mas não foi o caso.

Para continuar a viver seu amor, Laio armou um plano: ofereceu-se para escoltar o rapaz até os jogos de Neméia, onde ele iria participar como atleta. Após as competições, em vez de retornar à Frígia, Laio raptou Crisipo e fugiu para Tebas, onde pretendia recuperar o trono de seu pai, Lábdacos.

Furioso, Pélops perseguiu-os. Por ter perdido o herdeiro, Pélops culpou Laio e lançou sobre ele uma maldição:
“Se tiveres um filho ele te matará e toda tua descendência desgraçada será!”


(Sobre o destino de Crísipo, as versões divergem: ele se suicidou, foi assassinado pela madrasta ou foi levado com Laios para Tebas).


Em Tebas, Laios casou-se com Iokaste ou Jocasta e após a morte dos tiranos assumiu o trono. Assim, a dinastia labdácida foi reconduzida ao poder.

A maldição de Pélops foi ratificada pelos deuses do Olimpo, pois Laios transgrediu as leis da hospitalidade ao trair aquele que o hospedou raptando seu querido filho. Quando Laios tornou-se rei de Tebas, Hera enviou, para Tebas, a Esfinge, com seu enigma das três gerações e seu poder devastador, para punir Laios por seu crime de seqüestro.



The kiss of the sphinx - Franz Von Stuck


Ao consultar o oráculo de Delfos, este lhe disse “se você deseja salvar a cidade, então morra sem filhos”. O que para um rei era terrível: como morrer sem deixar um decendência?

Por causa da maldição, e do aviso do oráculo, Laios tentou evitar ter filhos. (mantendo, segundo Vernant, com a esposa uma relação desviada, do tipo homossexual).

“Mas, ele, cedendo ao prazer,
bêbado, possuído por Dionísio,
colocou dentro de mim
a semente de nosso filho.”
Iokaste, Prólogo de As fenícias, de Eurípedes

Quando nasceu o primogênito, Laios mandou furar-lhe os pés e abandoná-lo no Monte Citéron. Mas o bebê acabou recolhido por um pastor ( de Corinto) e batizado como Óidipous (o de pés inchados) ou Édipo.De acordo com a mitologia, a maldição de Pélops, conhecida como "Maldição dos Labdácidas" (a dinastia tebana iniciada com Lábdaco), foi concretizada quando o Óidipous, filho de Laios, , matou o pai e desposou a própria mãe, tendo com ela quatro filhos, que herdaram a maldição: Antígona, Ismênia, Eteócles e Polinice.


A maldição atingiu três gerações. Óidipous concretiza a mistura dessas três gerações, como apontava a Esfinge com seu enigma. Ele é “sócio de esperma de seu pai e pai-irmão de seus filhos” (cf. Óidipous, filho de Laios).

A característica de Laios é a desmedida, a Hybris, que o faz transgredir as leis da hospitalidade, em seguida descumprir a ordem do oráculo de não ter filhos e depois de tentar matar o próprio filho para que este mais tarde não o matasse, como previu o oráculo e acabou acontecendo.

“Penso, na antiga falta cometida, e tão logo punida,
mas cujo efeito
dura até a terceira geração;
penso na falta de Laios surdo à voz de Apolo, que,
por três vezes,
no assento fatídico de Pitho,
umbigo do mundo,
declarara que ele deveria morrer sem filhos,
se quisesse salvar a cidade”.
Coro em Sete contra Tebas de Ésquilo (versos 742-749).


Obs: Segundo Jean Pierre Vernant, Laios, o torto, “ao tornar-se adulto, mostra-se desequilibrado e unilateral nas usa relações sexuais e no seu relacionamento com seu anfitrião. Ele desvia seu comportamento erótico através de uma homossexualidade excessiva, com uma violência que faz o jovem Crísipo, filho de Pélops, sofrer, rompendo assim as regras de simetria, de reciprocidade, que se impõem tanto entre amantes como entre anfitrião e hóspede.” (Jean –Pierre Vernant, “O tirano coxo: de Édipo a Periandro”, Mito e tragédia na Grécia Antiga, Ed. Perspectiva, 2002, p 183-4).

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